Saí de casa como se soubesse o que fazia. Levei comigo a tranquilidade de todos os caminhos terem volta.
Mas não têm. Eu não sabia, e não têm. Fui mesmo assim, e estando de volta, me deparo com a inevitabilidade da vida, desse caminho que aos tropeços vamos, sim, traçando.
É uma sensação doce-azeda, como tantas outras. É doce, muito doce, ver constâncias nessas inconstâncias; ver mudanças onde clamava por mudanças (mas meus olhos míopes não me permitiam enxergar - elas estavam acontecendo!). É azedo, muito azedo, ver mortes. É azedo voltar pra casa e se deparar com a sua casa, e tudo estar exatamente no lugar que estaria na sua casa, mas ela já não te abriga. Eu me pergunto: será que algum dia voltarei a pertencer?
Fico triste, porque acho que a resposta é não.
6 comments:
Me pergunto isso sempre que vou pra casa tambem. Depois de 7 anos, nao consigo mais pertencer ao lugar da onde vim. Sou uma estranha la.
Eu também acho que a resposta é não.
Mas tento pensar que isso não é necessariamente triste.
Todas as mudanças só acontecem porque são necessárias. Deixamos de pertencer porque mudamos, mudaram, enfim.
Ainda que as mudanças que vieram, que os acontecimentos tristes, pudessem ser/ter sido outras/os, os que viessem não deixariam de ser angustiantes, conflituosos, amendrontadores. Se não fossem, talvez não motivassem mudanças reais.
É difícil tentar se livrar do "se...". Mas tudo sempre poderia ser diferente. E tudo sempre pode ser diferente, depois.
É o que eu penso.
Um beijo!
"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas estou tão pouco preparada para entender. Mas como faço agora? Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê.
(...)
Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.
(...)
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar".
Clarice Lispector
A nossa casa é onde a gente quer que ela seja. Nós (eu e você) optamos por procurar por aí, e talvez seja esse o preço dessa liberdade que tanto queríamos.Ser livre é não ter só um lugar pra voltar, eu acho. Mas lembra como era chato ter aquela casa, quando tínhamos tantos outros lugares pra desvendar?
Acho que depois de um tempo a casa antiga vira casa de novo, assim espero. E aí vou estar tranquila de ter feito aquilo que sonhava, desvendar por aí. Que sonhávamos, Ju!
Lugar talvez você nunca ache, mas espero que o sentimento de pessoas que mutuamente você se pertence estejam sempre contigo. (ainda que espalhadas pelo mundo)
=*
qual o nome da figura de linguagem que compara coisas opostas? e aquela outra das voltas no texto (elipse?)?.
enfim, gostei. bacana. interessante.
Post a Comment