Vou ser brutalmente sincera com vocês no dia de hoje.
Tenho me sentido numa prisão, chamada saudade.
Sinto muitas saudades de ser dependente, de ter casa de mãe, de ver aquele olhar de preocupação em cima de uma febre minha que somente a mãe conseguiria despejar. É como se a febre fosse nela mesma.
Essa é a maior saudade que mora em mim. Porque é uma prisão. Só me resta lembrar - eu não terei aquele olhar de novo, não adianta o tanto que eu quiser. Tive todos os que terei até o final da minha vida. Posso afirmar com certeza que o último foi o último, e não adianta quanto dinheiro eu ganhar, quantas passagens puder comprar, quantas casas construir - eu já sei de antemão que aquele olhar eu não terei mais.
E talvez muitos de nós não o teremos de qualquer maneira. Estamos todos crescendo, aprendendo a medir e cuidar das próprias febres, ligando menos e menos pra mamãe e papai. Mas tem uma diferença - mesmo que seja ilusória, a fantasia de voltar a ser o bebê da mamãe ainda está lá, ainda é realizável, por mais que não seja. Entende? Possivelmente eu me desenvolvesse de tal maneira que não iria deseja-lo mais. Mas já saber que, no caso de desejar, esse desejo vai ser daqueles que morrem na praia, é dureza. E Deus nem me perguntou se eu estava pronta (ou talvez tenha chegado à conclusão sozinho de que sim, eu estava. Vide eu).
E sinto um peso, antes dividido, inteiro sozinha. Eu sou responsabilidade minha.
Começo a entender um pouco mais as mães - agora que virei um pouco a mãe de mim. E minha vontade de me tornar uma se mistura a um medo sem tamanho - como eu que mal sei ser filha posso assumir essa responsabilidade por outra pessoa? Nem a minha eu consigo assumir direito - vide eu hoje.
Hoje eu queria chutar o pau da barraca. Ligar chorando pra mamãe e pedir pra ela vir me dar um colo - assim, por nada. Nada aconteceu, eu só quero. Eu só quero a minha mãe. Mas amanhã eu tenho que entregar um trabalho, e domingo ver apartamentos. A conta do celular vence dia 16. Então a filha chorona veste a máscara de adulta bem resolvida, e, dividida, sai pra rua.
Esse bebê? Eu cuido dele quando dá tempo.
3 comments:
ninguém ensinou a gente a ser adulta, ju. mas acho que a gente aprende. ainda que seja doído, a gente aprende.
um beijo.
e eu escrevi uma parte do email bem a respeito disso, sem nem ter lido suas palavras. é a gente sendo irmãs.
ainda tenho a sorte de ter preocupação de mãe em cima de mim, mesmo que a distância, mas o dia-a-dia é assim: ir trabalhar, voltar pra casa e fazer almoço, lavar roupa, arrumar a casa, lembrar de tomar remédio pra doença que não me larga faz 2 semanas, fazer um chá, me enfiar na cama, chorar por não ter ninguém ali medindo a minha temperatura, perguntando se eu to melhor... e ainda assim, pensar em como vou fazer pra conseguir pagar todas as contas.
mas como disse a marina, a gente aprende, ju! e juntas, compartilhando! =)
Ser mãe da gente é duro, Ju. Na verdade, se consolidar como ser sozinho no mundo, é difícil.
Não importa a quantidade de amigos/as, parceiros... a gente tá sempre sozinho no mundo, sim. Mãe e pai nos causam a sensação de que não estamos. E entes eu pensava que ter filhos gerava a falsa ilusão de que nunca mais estaremos sozinhas.
Mas sabe que depois de te ler, hoje, eu comecei a pensar que ter filhos é, sim, uma maneira de talvez nunca mais estarmos sozinhas? [ainda que esse seja um péssimo motivo para se desejar ter filhos...bem egoísta, né..]
Vai entender o que é essa 'ligação espiritual' que existe entre nós e nossas mães...
Segura a onda e vai, Ju :)
Beijos!!
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