17.3.10

Terceiro Olho

Foi num sonho que enxerguei.

Dentro do meu olho direito, no próprio globo ocular, nascia uma bola, outra. No começo do sonho era pequena, avermelhada, como uma infecção que acaba de acontecer. Tem um ar de novidade, e sua novidade incomoda. 

Como uma daquelas certezas de sonho, eu já sabia: era um outro olho.

No sonho eu ponderava "isso deve ser bom, terceiro olho é pra ser uma coisa legal", mas um outro sentimento foi imediato.

"E se ele cobrir a minha pupila?"

Eu então iria deixar de enxergar com um de meus olhos. Este, o direito, que me acompanha há uns bons anos, com seus cones e bastonetes, me ajudando a fazer algum sentido do caminho por onde passo. Um novo olho de enxergar nascia, e com ele, tudo novo. Ia virar uma cega, ao mesmo tempo em que começaria a enxergar tudo novo.

Do sonho, só lembro o medo. Um grande medo. O apego ao velho olho direito.

Me senti sem controle. Meu modo de enxergar as coisas está mudando, e eu não sei enxergar com essa bola primitiva-forma-de-olho. Como uma infecção, só me restava ver acontecer. E torcer pra dela sair uma imagem bem bonita, quem sabe mais colorida?

Eis que hoje, numa morna terça-feira de primavera, tenho curtido enxergar

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