8.1.10

Outra Metáfora

Foi inevitável hoje na mesa de massagem.

A com-cara-de-Russa Irina mal havia começado seu procedimento, enquanto uma música que poderia ser do país Basco, Celta ou Andina compunha o ambiente pretensioso em meio à selva de concreto que é Nova Iorque. Os cremes são da nova linha do spa, e têm princípios de aromaterapia. Tudo levava ao relaxamento pleno, e eu poderia economizar meus ATPs preciosos no processo - os braços musculosos da moça explicitaram desde o princípio a natureza de nossa relação.

Eis que Irina, com a suavidade típica de seus conterrâneos, exige que eu relaxe.

Relax your shoulders, Juliana.

E o faz por outras 17 vezes nos primeiros 5 minutos da massagem de uma hora. Balança meus membros, e meu medo daqueles músculos vindo em direção à minha lombar se mistura à vontade de tirar um A em "cliente de massagem".

Senti os clássicos nós nos ombros, o ponto alto dos sussuros gritados por Irina. Mas o espanto veio com a quantidade de outros pequenos pontos de tensão em todos os outros músculos de minhas costas.

You are extremely tense, Juliana.

E dos meus braços. Pernas, bunda, pés e mãos. Minha cabeça já fazia outras conexões. Lamentava ter tido o azar de pegar o símbolo da gentileza Russa. Planejava uma mentira para a minha irmã, dona desse presente... maldito? Mas tudo o que eu queria era alguém mais suave, gentil, que através do meu relaxamento extremo me livrasse das tensões que vinha acumulando em noites e noites mal dormidas. Me, me, me! Queria uma solução, mas nada até então soava como tal.

À medida em que Irina avançava em meu corpo nu - undress completely, Juliana - minha vontade era tensionar ainda mais onde quer que meu instinto me dissesse que Irina iria atacar. O problema é que nó tenso contraído dói mais que nó. Minha escolha era entre dor, e dor + dor pela existência da dor prévia. Mas o difícil é falar para o ombro, machucado, fatigado, para deixar o furacão Irina passar. Se entre a dor e dor + dor existe também a ausência. De dor e de conforto, a ausência.

Tentava controlar onde deixaria Irina acessar meus nós. Os mais doloridos, ou mais necessitados, a depender de mim, seriam poupados. E eu sairia de lá com os mesmos nós, mesmas tensões.

Enquanto pensava isso tudo, Irina já estava finalizando, desfazendo os nós da base de meu crânio. Doeu, mas eu deixei doer.

I know it was painful.
But you were a true trooper, Juliana.

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