Umas Saudades

Às vezes chegam no meio de um oceano Nova-iorquino.

Um dia frio, porém bonito. Gente na rua, sempre. Foi meu primeiro dia útil de férias e sem família (maravilhosamente) ocupando meu tempo, e minha nova agenda já se enchia de compromissos, reuniões, e aqueles to-dos atrasados do ano passado. Liga pra internet, faz contas, matrícula, paga conta, aluguel, volta pra academia... Ainda na cama e já estava cansada.

Fui cedo à loja da Apple consertar meu computador, no meatpacking district. Na mochila, roupa pra academia, laptop pra começar a resolver a vida, livros pra ler. Desisti de tudo meia hora depois de sair de casa, hoje eu vou fazer o que eu quiser...

Assisti Abrazos Rotos, do Almodóvar, e fiquei encantada. Acho que a Penélope Cruz ficou na minha cabeça, aparecendo momentaneamente por todo o dia. Algo mais, também, não só ela. A sensação do filme. Saí de lá assim, e acabo de me transportar de novo. Ainda era pôr-do-Sol, e de Madrid caí em Nova Iorque, e estava inteira nos dois lugares.

(sempre adoro quando isso acontece. quem já saiu de casa sabe que aquela expectativa, ou aquela primeira imagem de uma cidade depois de um tempo se tornam várias; a cidade vira o que você quer que ela vire, em especial se tratando de Nova Iorque. E eu gosto quando sinto que eu saio um pouco de mim, e estou vivendo Nova Iorque, aquela Nova Iorque)

O espírito pra frentex da cidade então me tomou conta, e corri pra casa pra começar, pelas gavetas, o ano novo. Mas minhas gavetas escondem mais... E o que antes era uma menina cosmopolita Madrid-Nova Iorque voltou a ser uma caloura, uma criança em festa junina, uma adolescente pulando carnaval. E eu queria ter escrito mais que "hoje acordei, escovei os dentes e fiz café; aí saí e o dia estava liiiiiiindo, os pássaros cantavam para mim". Esse meu último parágrafo será o curto algo a mais então. Não estou sabendo escrever nada além de "minhas férias" e "como não consigo ir além disso", mas então digo que sim, há algo além. Madrid, Nova Iorque, saudades. E algo.