1.5.09

Gratidão, Felicidade, Saudade, e mais um monte dessas coisas



Melancólica, feliz, triste, grata, cansada, ansiosa, satisfeita. Que nem gente.

Sou gente há 24 anos completos hoje. Fui gente enquanto o Rei Leão estreava nos cinemas, e eu estive lá com a Neusa e a Catarina, chorando a morte do Mufasa, e voltando do Cine Márcia em direção à rodoviária e o 136. Clube do Congresso, ônibus de cor... verde? Marrom? O grande mistério dos lagonorteanos. Onde tive conversas das melhores da vida com a Cacá, voltando da escola. Depois de comer um enroladinho de queijo e presunto na cantina.

Mas eu gostava mesmo era de enroladinho frito de salsicha. No finado posto Tucano, na BR-040, a parada para a iguaria de beira de estrada era religiosa. A ida à fazenda levava menos de duas horas, e ainda no Núcleo Bandeirante o pacote de bolachas já havia acabado. Passando de Luziânia, as crianças já tinham fome e vontade de fazer xixi. Minha mãe dizia que nossas viagens de carro não passavam de um tour chamado "banheiros do Brasil".

Mas foi no interior da Bahia que eu me assustei. Uma placa pedia às mulheres frequentadoras do singelo banheirinho fedido que, por favor, não façam cocô no chão. Íamos em direção à Boipeba, de ônibus de linha, ônibus escolar off-road, barquinho e depois mais um pouco de chão pela frente. Casa da dona Leumária (?) no areal. Com direito a pé de carambola no quintal.

Como eu e mais gente do meu tipo colhíamos, felizes, quando era época. Carambola, ameixa, jambo, jamelão. Eu e meu pai saímos para o pomar da fazenda com um facão, ele descascava as laranjas e perguntava: "quer com tampinha ou cortada no meio?". Eu, gente pequena mas sabida, sempre quis com tampinha. As opiniões eram divididas entre meus primos.

Era gente já quando meus pais se amavam (aliás, virei gente por causa disso), e fui gente quando deixaram de se amar. Virei outro tipo de gente.

Às vezes nem reconheço a pessoa que te escreve. Acho que ainda estou me acostumando a ser gente sem ir pro açude à cavalo, sem bichinhos de papel-marche da mamãe, sem aula de química no segundo horário, sem pizzas no domingo. Não faço idéia como isso funciona. Como pode caber tudo isso em mim? Se eu pensar que tudo se foi, eu vou um pouco também. Mas eu tenho certeza que não, está tudo aqui em algum lugar. Bem guardadinho, recheado de amor. Boas lembranças e saudades. Mas aí as saudades são muito grandes, e empurram a parte boa das lembranças, e até um pouco da parte boa de ser contemporânea de mim mesma, e eu fico: "mas e aquela felicidade toda?". Não cabe. Na cabeça não cabe. Isso deve ser trabalho pro coração.

Deixa ele. Coração cheio, pronto pra ficar ainda mais.

2 comments:

DAUGHTER NATURE said...

Ju, linda, tô aqui na casa da Paz, sozinha, com as malas recém fechadas, sorrindo à toa, com frio na barriga. Dentro de umas poucas horas vou pro aeroporto. E dentro de umas quantas mais estarei na minha casa, sentada num sofá amarelo, contando histórias...

E lendo o teu texto me vêm tantos causos à cabeça! Histórias daqui, de lá, da infância, da adolescência... Que bom! Todas essas lembranças somadas a outros tantos recuerdos já esquecidos sao o que se pode chamar Eta. E você, Ju, com todas as suas histórias, é o que se pode chamar de MEU AMOR!!!!

Te amo! E que os seus 24 sejam lindos e cheios de novos causos. Amor, saúde, paz, alegria. Tudo de bom!

Mônica Padilha said...

Um texto bem a la JUJU, que adoro!!

Lido com um pouco de atraso mas bem curtido!!

Amei!!

Beijinhos, Cacá