Meu amigo, nesse jogo não tem café-com-leite não. Muito menos altas.
Me lembro de um episódio muito pessoal e tragicômico da minha vida. Na verdade, acabei de lembrar de alguns. Um deles termina comigo, tendo um pequeno nervous breakdown, me dissolvendo em gargalhadas ao final de uma semana dos infernos às 2 da madrugada no banco da delegacia ouvindo o policial chamar pelo rádio: "isso mesmo, veículo placa JGE 4679 da proprietária Juliana Caldas, furtado na residencial da 403 sul".
Antes disso, uns bons anos antes, uma das milhares de viagens de volta à Brasília da fazenda terminariam com o mesmo riso nervoso. Pouco depois do divórcio dos meus pais, fomos os três à Cristalina: eu e minha mãe em um carro para a fazenda da família, e meu pai, em seu carro, em outro horário, indo visitar uma nova propriedade ali perto.
Fim de tarde de domingo na BR-040. Estávamos chegando eu minha mãe à pista dupla na área de Luziânia, quando um fusca velho na outra direção simplesmente solta uma de suas rodas inteiras. Desistiu da vida, o carro, e se desmantelava em alta velocidade na nossa frente. A roda com o pneu veio quicando em nossa direção, em câmera lenta, claro. Não sei o que eu temia (que batesse no teto e quebrasse nossas cabeças?), mas temia muito. Só falava palavrão, claro, algo que nunca fazia na frente da minha mãe. Puta que o pariu, fudeu, caralho. A roda bateu no capô, e destruiu o carro com uma força que o próprio fusca não tinha há anos. Fomos parar no acostamento, oposto a onde se encontrava o tal carro velho, de onde, de repente, saíram dois homens correndo pro meio do mato - um deles com a perna engessada, deixando o carro e tudo pra trás.
A roda maldita, não satisfeita, seguiu quicando até alcançar a próxima vítima, o carro com uma família de Luziânia que vinha logo atrás. O carro foi levado para algum dos milhares de mecânicos da cidade e a polícia chegou. Fomos à delegacia na viatura, enquanto eu telefonava pro meu pai que deveria estar no meio da estrada nesse momento e poderia nos dar uma carona.
Na porta da delegacia demos de cara com um típico caso de esfaqueamento em bar - um sujeito todo ensanguentado, algemado, e mais alguns participantes da briga. Nunca gostei da cidade, e gostava cada vez menos. Não é que me sai o delegado sussurando para mim e minha mãe que o boletim de ocorrência do carro já estava pronto mas na verdade estava nos segurando ali porque o pai da família da parati vítima #2 era um chefe do tráfico da região? Puta merda, caralho, fudeu.
Eis que chega meu pai - juntamente com minha tia apelidada pelos primos de casconça (cascavel+onça) e, como não, sua nova mulher. Até então eu não sabia de sua existência, e minha mãe, se sabia, nunca tinha visto a perua. Agora eu estava sentada no banco de trás entre a casconça e minha querida mãe, em silêncio, carregando um queijo (mussarela caseira maravilhosa feita pela cozinheira da fazenda) e um saco de mandiocas, por mais uma hora até chegar em casa.
É claro que ao descer do carro eu tropecei, e o queijo caiu, também em câmera lenta, bem na calçada do meu primeiro namorico, das brincadeiras na rua, dos tempos passados em família. E o duralex, tão resistente, se espatifou junto, preenchendo nosso queijo com pequenos cortantes pedaços de vidro feito para não quebrar nunca. Exceto nessas situações.
Nessa história, em alguns vários momentos, eu me vi pensando "Beleza, Deus. Basta por hoje". Até o próximo episódio.
E na verdade quem julga se basta ou não, infelizmente, nem sempre sou eu. Minha auto-piedade erra, muito, e bem quando acho que as forças acabaram de vez, vem aquele sprint final, surpresa! E não é que eu ainda aguento?
"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma,
a vida não para."
Me lembro de um episódio muito pessoal e tragicômico da minha vida. Na verdade, acabei de lembrar de alguns. Um deles termina comigo, tendo um pequeno nervous breakdown, me dissolvendo em gargalhadas ao final de uma semana dos infernos às 2 da madrugada no banco da delegacia ouvindo o policial chamar pelo rádio: "isso mesmo, veículo placa JGE 4679 da proprietária Juliana Caldas, furtado na residencial da 403 sul".
Antes disso, uns bons anos antes, uma das milhares de viagens de volta à Brasília da fazenda terminariam com o mesmo riso nervoso. Pouco depois do divórcio dos meus pais, fomos os três à Cristalina: eu e minha mãe em um carro para a fazenda da família, e meu pai, em seu carro, em outro horário, indo visitar uma nova propriedade ali perto.
Fim de tarde de domingo na BR-040. Estávamos chegando eu minha mãe à pista dupla na área de Luziânia, quando um fusca velho na outra direção simplesmente solta uma de suas rodas inteiras. Desistiu da vida, o carro, e se desmantelava em alta velocidade na nossa frente. A roda com o pneu veio quicando em nossa direção, em câmera lenta, claro. Não sei o que eu temia (que batesse no teto e quebrasse nossas cabeças?), mas temia muito. Só falava palavrão, claro, algo que nunca fazia na frente da minha mãe. Puta que o pariu, fudeu, caralho. A roda bateu no capô, e destruiu o carro com uma força que o próprio fusca não tinha há anos. Fomos parar no acostamento, oposto a onde se encontrava o tal carro velho, de onde, de repente, saíram dois homens correndo pro meio do mato - um deles com a perna engessada, deixando o carro e tudo pra trás.
A roda maldita, não satisfeita, seguiu quicando até alcançar a próxima vítima, o carro com uma família de Luziânia que vinha logo atrás. O carro foi levado para algum dos milhares de mecânicos da cidade e a polícia chegou. Fomos à delegacia na viatura, enquanto eu telefonava pro meu pai que deveria estar no meio da estrada nesse momento e poderia nos dar uma carona.
Na porta da delegacia demos de cara com um típico caso de esfaqueamento em bar - um sujeito todo ensanguentado, algemado, e mais alguns participantes da briga. Nunca gostei da cidade, e gostava cada vez menos. Não é que me sai o delegado sussurando para mim e minha mãe que o boletim de ocorrência do carro já estava pronto mas na verdade estava nos segurando ali porque o pai da família da parati vítima #2 era um chefe do tráfico da região? Puta merda, caralho, fudeu.
Eis que chega meu pai - juntamente com minha tia apelidada pelos primos de casconça (cascavel+onça) e, como não, sua nova mulher. Até então eu não sabia de sua existência, e minha mãe, se sabia, nunca tinha visto a perua. Agora eu estava sentada no banco de trás entre a casconça e minha querida mãe, em silêncio, carregando um queijo (mussarela caseira maravilhosa feita pela cozinheira da fazenda) e um saco de mandiocas, por mais uma hora até chegar em casa.
É claro que ao descer do carro eu tropecei, e o queijo caiu, também em câmera lenta, bem na calçada do meu primeiro namorico, das brincadeiras na rua, dos tempos passados em família. E o duralex, tão resistente, se espatifou junto, preenchendo nosso queijo com pequenos cortantes pedaços de vidro feito para não quebrar nunca. Exceto nessas situações.
Nessa história, em alguns vários momentos, eu me vi pensando "Beleza, Deus. Basta por hoje". Até o próximo episódio.
E na verdade quem julga se basta ou não, infelizmente, nem sempre sou eu. Minha auto-piedade erra, muito, e bem quando acho que as forças acabaram de vez, vem aquele sprint final, surpresa! E não é que eu ainda aguento?
"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma,
a vida não para."
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