31.3.09

Bichos, escamas, mãos e pincéis

Colagem da famosa artista internacional Tia Sandy.

Inspirada no texto-menina-de-13-anos do Hélio, decidi sentar e escrever o que desse na telha. Não aguentava mais rever a velha história contada no post anterior, francamente, porque não me traz boas lembranças. Mas não conseguia pensar em mais nada, nenhuma idéia forte, nenhum tema central para desenvolver um texto coeso.

Eu cresci ouvindo das professoras de redação: você tem boas idéias, falta coesão.

Mas às vezes eu mesma não sei onde encontrá-la. Talvez uma esperança, que o leitor capte algo mais, me trouxe aqui. Ou talvez a esperança seja que eu faça sentido ao ponto de eu mesma me entender. Ou só um desprendimento pra variar e fé de que, mesmo esquisito, talvez por ter saído de mim valha a pena. Fé ni mim.

Um dia me lamentava por não saber desenhar. Aliás, isso é prática comum aqui em casa. Sinto vontade louca de sentar e pegar o lápis, ou as tintas, e fazer minha arte. "Mas eu não tenho técnica", eu me digo. Aí me lembro da Momô - "quem disse que precisa de técnica?". Mas quando vi, já foi. Já estou ligando a televisão. E sigo com aquele bichinho andando por debaixo da minha pele pronto pra sair.

Mas na sexta-feira passada foi diferente. Eu dormi, e em pleno sono me livrei desses bichinhos. Sonhei com eles, vários deles. Eu estava na cama da minha mãe, o lugar mais seguro do mundo, e como de uma bolsa de canguru, bem debaixo da pele, eu via bichos, vários. Pareciam cobras, mas eu sabia que não poderia ser verdade. Alguém gritava "peixes!", por causa das escamas, e eu respondia: "platelmintos!" (secretamente duvidando muito de mim mesma - platelmintos com escamas?).

Eram dezenas de cobras-vermes, e eu enojada os tirava de dentro do corpo a mãozadas. O tamanho do asco era o tamanho da garra, eu não deixaria nenhum ovinho pra contar a história.

De manhã, o nojo prevaleceu nas primeiras horas. Desconforto, estranhamento. Mas logo depois veio a lembrança sensorial das cobras se rebatendo empunhadas por mim, e o poder... ah, inexplicável.

2 comments:

DAUGHTER NATURE said...

Uau! Sem palavras... gostei muito.

Te amo, amiga!

Hélio Sales Jr. said...

Olha, os platelmintos (ou seja lá como for que isso se escreve) SEMPRE me perturbaram a vida inteira. Taí um fator comum pra nossa necessidade de vomitar certas coisas em determinados momentos. Ou de pegar um pincel e pintar o que aparecer na mão.