15.10.11

A mãe que se foi

Tem uma personagem na minha vida, ela tem pouco mais de 4 anos: é a mãe morta. Achei que fosse a mesma da viva, aquela que me pariu e cuidou, mas são diferentes, acabo de perceber. A mãe morta é mais descolada, dona das histórias mais engraçadas, dos nãos mais bem ditos, dos sim recheados do amor mais puro pra vida inteira. Falo dela com um sorriso no rosto e um contento de pois é, ela se foi, mas era tão espirituosa, não? aiai, hehe. É a mãe morta.

Quando nasceu, precisou que a mãe viva lhe desse espaço, e decorei, assim como decorei a tabuada do 7, que agora ao falar de minha mãe deveria usar os verbos no pretérito. Não vem de brinde com o folhetim do cemitério, a mim coube decorar mesmo, e baixar a cabeça durante os incontáveis atos falhos de minha mãe é... Não, minha mãe era, e então ela vira outra pessoa. Tenho passado esses anos na companhia da mãe morta, mas hoje senti saudades mesmo era da viva.

Hoje olhava seus pertences, imersa num mundo da existência da mãe viva no qual nem sempre entro (quase nunca, entretida sempre pela mãe morta), e pensei cá comigo: eu te amava tanto. Quando, na verdade, achei que deveria dizer: eu te amo tanto. Mas não, dessa vez não falava com a mãe morta. A mãe morta está sempre aqui comigo, me arranca sorrisos e tem bons causos pras mesas de bar. Hoje quis falar com a mãe viva, aquela que conheci e da qual sinto saudades, quis dizer:
mãe, eu te amava tanto.

2 comments:

coresquenãoseionome said...

Sonhei com ela a noite passada. Com vc. Com a casa.
Foi um sonho forte, só contando pessoalmente.
Um beijo grande!

Daya said...

lindo demais, ju.

=*