21.10.10

Sobre o não-pertencimento - II

Um dia contei a vocês que vim desavisada. Ainda com um boa dose de tolice adolescente (daquela que nos faz corajosos e donos de nós quando, na verdade, ainda nos falta um bocado dessa propriedade), saí de casa como se soubesse onde essa decisão me levaria.

Eu só queria sair.

Não sentia nada. Não sentia medo, não sentia dor, não sentia alegria também. Foi tudo muito simples: um avião de lá me trouxe, com uma pequena porcentagem de minhas roupas e objetos pessoais. Precisava de passaporte e dinheiro, só. Poderia bem estar indo passar um final de semana, e logo depois voltar para tudo que conhecia.

Mas não sabia que encontraria outros pedaços da minha identidade, que minha vontade de sair de lá permaneceria por tanto tempo. Eu, uma nostálgica por natureza, orgulhosa e cheia de fortes laços, os quais sempre julguei necessários à minha vida. Não julgava possível ser outro alguém que não fosse aquela.

Sabia que carros não me agradavam, só não sabia o quanto. Sabia que sentia medo, só não sabia o quanto. Sabia também o que era amor, só não sabia seu tamanho. Sabia quem era eu, só não sabia tudo.

Hoje sei o que são saudades. Hoje sei o que é propriedade (e é uma balela). Aprendi que gente é gente, em qualquer lugar do mundo. Que qualquer lugar do mundo pode ser meu também, apesar de nenhum ser. E que, ciente do fato de que nunca sei onde os poucos passos à minha frente me levarão, posso tomar decisões desinformadas conscientemente.

Às vezes adoraria poder voltar.

Mas outras horas esse oceano de não-saber, no qual encontro mais estabilidade que em qualquer ilusão de certezas, me instiga, e me enche de vontade de me jogar nele. É, acho que vou me jogar no oceano.

Agora sinto. Sinto tudo. Sinto saudades do que deixarei, pois só agora sei o tamanho desse passo, sem volta. Não deixo uma cidade - me deixo um pouco. Um pouco volátil, esse pedaço não esperará por mim, sei bem. Sinto medo do meu destino, pois não sei o que me receberá. Espero que seja de braços bem abertos.

(Uma sensível-insensível?)

Gostaria de fingir ser uma escolha, meu texto seria muito mais fofinho se assim fosse. Não é escolha não, hoje só tenho um jeito de ir: conscientemente não sabendo.

4 comments:

Larissa said...

que belo entendimento vc tem ju, da adolescencia, do nosso ser que sempre muda, de tudo que nao sabemose o quanto nos espera cada vez que partimos para algo desconhecido.

adorei. muitos beijos e saudades.

Unknown said...

Minha frase preferida é: ciente do fato de que nunca sei onde os poucos passos à minha frente me levarão, posso tomar decisões desinformadas conscientemente. =)

Giovani Iemini said...

que beleza, tanto este como o outro.

ju, quer participar do blog do bar do escritor?

Anonymous said...

que bonito...
um dia também vou.