31.5.10

Sobre o rascunho e seu tempo de vida

Deixei um rascunho. Saí do papel e fui pro mundo, esperando voltar do mundo e seguir no meu papel.

Mas eu já não me encaixava mais - e somente fui a um jantar.

Tentei por uns minutos fazer uma ficção de mim. Mas já me referia a mim como aquele alguém de quatro horas atrás que sentia aquelas coisas. Tentava acessar as lembranças recentes, e usar a escrita, essa escrita, tão parte de mim, que me define. E minha escrita me falhava, e eu me frustrava, porque eu falhava a minha escrita. Já não sinto aquelas coisas, e sinto outras completamente diferentes.

Acho difícil saber o que no mundo de fora poderia ter causado essa mudança, hoje tão radical. Acho que foi no mundo de dentro mesmo. Pode uma pessoa taquicardiar seu próprio coração? Como pode em um oceano de calmaria bater uma onda de desespero? De onde vem essa onda? Onde nascem os sentimentos?

E hoje dormirei um pouco assustada.
Com medo desse mundo que não enxergo, sinto.
Que me sente coisas.
Fecharei os olhos então, se eles já estão fechados...

1 comment:

Larissa said...

Adorei Ju. as vezes estou escrevendo algo e basta eu me distrair por alguns minutos para aquilo que eu escrevia ja estar num passado distante e quem sou no momento mudar completamente. Acabo colecionando rascunhos e esperando uma parte de mim manter constante por tempo suficiente para que eu possa terminar o proximo pensamento...