Estranhamento

Parte de mudar é aprender a se estranhar de tempos em tempos. Eu me estranho (com um sorriso maroto de satisfação, mas ainda assim achando tudo muito estranho).

No meu sistema de classificação não existe rótulo para o que estou sentindo. Será possível que nunca antes eu havia sentido isso? Parece então não ser verdade, uma vez que não tenho validação nem de mim! - será que sinto algo outro e só não estou reconhecendo?, é o que eu pensaria.

Não, isso é novinho em folha, tenho certeza. Eu sinto um sentimento ruim. E as pessoas vêm me perguntar se está tudo bem, e eu respondo, sinceramente, que sim. Estou sentindo algo ruim, mas tá bom. Estou acostumada a sentimentos ruins me encharcando, ocupando todos os meus poros, destruindo minhas esperanças e desfazendo minhas conquistas como se fossem castelinhos de areia.

Hoje, sinto um sentimento ruim, mas é bom. A parte boa é perceber que hoje há algo em mim não-afetado por esse sentimento, qualquer seja ele. Não me sinto mais só, eu hoje tenho a companhia de mim mesma - esse cerne não-afetado. Posso então só sentir, sem desespero; sentir, sem solidão. Sentir e inclusive curtir essa pequena-fossa, gostosa. Eu não estou acostumada com isso. Sinto um golpe em minha auto-estima, mas, espere!, ela não vai até o chão. Parece que minha medula está mais forte, meu cerne, meu dentro, eu. E as coisas que acontecem comigo têm um efeito, quem sabe, proporcional?

Proporção é tudo na vida de uma pessoa.
Melhor assim.