Eu gosto dos meus sonhos, por isso conto tantos deles por aqui. Sinto um respeito e um carinho imenso por eles, e meus caderninhos de cabeceira onde há anos os anoto, são minhas caixinhas de jóias.
Como uma neta que ficaria horas vendo as jóias de sua avó, eu vez ou outra passo horas em frente aos meus sonhos. Cada um deles é um símbolo de um momento, e abro sorrisos e sorrisos ao recordá-los. Já pensei muito se deveria ou não compartilhá-los aqui. É que, não sei você sabe, mas eles são incrivelmente pessoais. Contam as coisas mais importantes sobre mim. Essa dúvida se torna então um dilema existencial - o quanto de mim eu quero compartilhar? Sendo eu a dona de um blog, sabe-se de antemão que algum bocado eu não me importo, e gosto, de botar pra jogo. Eu gosto de pessoas e suas histórias. E sou a pessoa mais acessível para mim mesma (aliás, será?), então nesse sentido sou bem auto-entretida. Como uma pesquisadora em campo o tempo todo. E me lembro de um amigo dizendo que não teria coragem de escrever como eu - o que me causou sentimentos conflitantes, um arrependimento imediato, mas depois uma alegria. Ele o disse como um elogio, e sempre que essa dúvida me aflige de novo, eu só penso: por que não? E posto.
Enfim, isso era só pra dizer por que falo tanto dos meus sonhos.
Um dia desses contei de maneira bem camuflada uma série deles, que me aconteceram há algumas semanas. Sonhos onde ficava em paz com as mulheres que levaram à frente os relacionamentos que eu deixei para trás. Cada dia da semana sonhei com uma delas, nós conversávamos tranquilamente, até que em certo momento fluentemente concordávamos "estamos bem, né?". E, assim, em um segundo depois de de anos, eu sentia paz. Me lembro bem da estranheza de beber, conversar, e rir com aquelas que deveriam ser minhas rivais, mas tinha uma voz dentro da minha cabeça de mim dentro da minha cabeça que se perguntava: por que não?
Outro dia desses, em sonho encontrei uma família na beira de um rio, na fazenda. Eles viviam dentro de uma pedra de rio, em sua beira, numa improvisada morada. Eu fazia um convite a eles, simples para mim mas capaz de mudar toda a vida daquela mãe, pai e filho - por que eles não se mudariam para uma casinha simples do outro lado do rio, no topo do morro? Ela acabara de ficar disponível, e eu sabia que essa idéia era nova, aquele povo jamais teria vivido em uma casa decente, e em outro momento essa idéia poderia nem surgir, mas a casa disponível e o povo necessitado me trouxeram uma só pergunta à mente (a mente da mente): por que não?
Não cheguei a ver a mudança. Acordei antes. Mas espero ansiosamente pelo próximo capítulo.
(Talvez eu corte o cabelo amanhã pela manhã)
1 comment:
Você TEM que ler um livro do Kafka que é basicamente o diário de sonhos dele! Eu tenho aqui, vou fuçar nas minhas coisas pra te passar o nome depois! Também anoto um ou outro de vez em quando, mas não com tanta disciplina...
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