14.7.09

Sobre o Morrer e o Viver

Há tempos tenho me acostumado com a idéia de que um nascimento de algo em nós significa também morte, de outro algo. O parto é o início da vida nesse mundo, mas o fim dela no útero. Uma mudança em nós é a morte do que fica pra trás, o pequeno cadáver do momento, o jeito de ser que deixou de ser.

Esses nascimentos e lutos são um bocado pra engolir, ou digerir, às vezes. Em especial para um alguém tão desacostumado. Emotionally dumb. Como a vida, por si só, pode ser tão grande aventura? Quem nos fez acreditar que não fosse? Aos meus filhos, vou dosar os contos de fadas.

Talvez na mesma intensidade da alegria de vida nova, seja a triste descoberta de cadáveres antigos. Ainda flutuando por aqui dentro. E tá começando a feder.

3 comments:

DAUGHTER NATURE said...

Esse texto me lembrou muito a carta da morte no tarô. Na verdade, tudo mundo assusta quando vê. Mas, no fundo, no fundo, ela não significa nada mais do que o renascimento, a mudança. Mas tudo depende da sua interpretação, de como você encara ela. Ou de como você encara esses pequenos cadáveres fétidos. Conselho de amiga: enterra.

DAUGHTER NATURE said...

Ah, me lembrou também uma música linda do Roberto Carlos cantada pelo Los Hermanos. Curte aí!

Traumas
Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos


Meu pai um dia me falou
Pra que eu nunca mentisse
Mas ele também se esqueceu
De me dizer a verdade
Da realidade do mundo
Que eu ia saber
Dos traumas que a gente só sente
Depois de crescer
Falou dos anjos que eu conheci
No delírio da febre que ardia
No meu pequeno corpo que sofria
Sem nada entender

Minha mulher em certa noite
Ao ver meu sono estremecido
Falou que os pesadelos são
Algum problema adormecido
Durante o dia a gente tenta
Com sorrisos disfarçar
Alguma coisa que na alma
Conseguimos sufocar

Meu pai tentou encher de fantasia
E enfeitar as coisas que eu via
Mas aqueles anjos agora já se foram
Depois que eu cresci

Da minha infância agora tão distante
Aqueles anjos no tempo eu perdi
Meu pai sentia o que eu sinto agora
Depois que cresci

Agora eu sei o que meu pai
Queria me esconder
Às vezes as mentiras
Também ajudam a viver
Talvez um dia pro meu filho
Eu também tenha que mentir
Pra enfeitar os caminhos
Que ele um dia vai seguir

Meu pai tentou encher de fantasia
E enfeitar as coisas que eu via
Mas aqueles anjos agora já se foram
Depois que eu cresci

Da minha infância agora tão distante
Aqueles anjos no tempo eu perdi
Meu pai sentia, sentia o que eu sinto agora
Depois que cresci

Meu pai tentou, tentou me encher de fantasia
E enfeitar, enfeitar as coisas que eu via

. said...

Linda, Eta, adorei!