20.2.09

Nova Iorque, o Universo e Nós

Acabo de chegar em casa, tenho por volta de uns 75 ml de vinho tinto na garrafa. Agora foi pra taça, e eu literalmente molhando o bico. Um amigo deixou algumas garrafas de vinho barato aqui, para depois buscar. Eu guardei por uns 3 dias, até quando ele me disse que, em situações de emergência, eu me sentisse à vontade para abrir uma garrafa. Não só não durou muito, como nesse momento eu ainda precisava de mais. Mais de 75 ml, com certeza.

Voltei de um passeio mágico, ao mundo de Antony & the Johnsons, o grupo de Antony Hegarty. Ele leva a bandeira da androgenia, do sofrimento profundo e da alegria, também. Entre um buraco-negro e outro, pergunta se sua lanchonete preferida ainda está na rua 43.

Antony é controverso, não conheci ninguém que gostasse dele como eu. Mas hoje eu estava em casa. Não sabia o que esperar do público; apenas sabia que seus shows estavam esgotando ingressos pelo mundo, e me perguntava quem eram essas pessoas esquisitas que gostavam da sua voz esquisita e suas músicas esquisitas, também. Esse foi talvez o público mais diverso entre os shows que tenho assistido aqui. Me impressionou o número de pessoas mais velhas, alguns com seus filhos. Gente que eu não esperava gostar do esquisito como eu. Gente que é gente até o último fio de cabelo, com quem eu sentei, ouvi, e chorei. Choramos, todos.

Eu sempre o escutei com uma pontinha de culpa. Eu deveria é estar ouvindo Ivete e dançando. Mas cansei de passar desodorante em sovaco suado fedido. Ao ouvir hoje pela primeira vez as músicas de seu disco novo, eu senti. A música dele é como estar numa floresta encantada. O mundo criado por ele, por aqueles instantes enquanto a música é tocada, nos mostra fadas e monstros.

Como o nosso. O meu, pelo menos, é assim. Minha vida é linda e aterrorizante, ao mesmo tempo. E é na essência do terror, do medo, e da vida que surge a alegria singela de estar vivo.

E, pra quem está contando quantas vezes eu uso as mesmas citações em anos de blog, aí vai uma velha conhecida nossa:

"Provo que a mais alta expressão da dor
consiste essencialmente na alegria"

Augusto dos Anjos

1 comment:

DAUGHTER NATURE said...

"Eu, filho do carbono e do amoníaco, monstro de escuridão e rutilância, sofro, desde a epigênese da infância, a influência má dos signos do zodíaco..."

Así es...

Besos pa mi amiga amada.