30.3.11

Primeiras saudades

Demorou ou chegou rápido, não sei, mas me visitaram as primeiras saudades de Nova Iorque. Cacete, mas que saudades de Nova Iorque.
Me acostumei a mal-dizer a grande maçã, educadamente, enquanto falava de suas maravilhas. A última cidade que chamei de casa. Me cansei dela, e fui embora. Estive feliz até agora, há quase um mês voltei para o meu país, e que alegria é falar o português, comer palmito e encontrar meus amigos sem hora pra voltar. É bom estar aqui quando meu pai faz anos, meu irmão apresenta a nova namorada à família e minha avó tira um cochilo na sala. Sorrio besta ao ver os pássaros na minha janela, e não me incomodo com o trânsito pois fico de olho nas árvores dos eixos de Brasília.
Mas aqui sou alguém para muitos outros, uma dádiva e uma maldição. Um dia desses, desses felizes, ensaiava um texto sobre grounding, um conceito sei lá de onde, mas já ouvi essa palavra muitas vezes e me faz muito sentido. Enraizamento. A entendo como algo qualquer que te aproxime de suas raízes, te faça sentir "no chão", seja pelo simples fato de tirar os calçados e pisar na terra (e se lembrar que faz parte dela), ou encontrar sua avó na sua terra natal (e se lembrar que faz parte dela). Me perguntei esse tempo todo como vivi sem isso, parece um remédio natural da existência dos seres, que maravilha é pertencer. Como tudo na vida, esse diacho de vida, vem com um preço, caro: pertencer. Pertencer é uma liberdade e uma falta dela, chego a acreditar que na vida não há liberdade (nem falarei dos impostos que preciso pagar para existir). Só sei que hoje senti falta de não pertencer. De estar onde não é minha casa, mas onde me sinto acolhida daquele jeito todo torto que é uma das várias possibilidades da vida. Despertenço com propriedade. Saio à noite e o bairro também é meu, a cerveja é uma das milhões que estão sendo servidas naquela mesma noite em que a menina sabe-se-lá-de-onde e sabe-se-lá-seu-nome a pede no balcão do bar. E os julgamentos, promessas, dores e até alegrias podem ser mais efêmeras, veja bem, virei a esquina.
Virei a esquina e ele se foi, e não há mais dor no coração. Virei a esquina e me vi só, mas porque estava só lá. Virei a esquina e ela não mais existia, mas só porque virei a esquina. Não sabia que voltaria e ela continuaria a não existir. Voltar é encarar tudo que deixei quando peguei à esquerda e fui embora.

3 comments:

Cores said...

ai, que difícil (ou não).
mais ainda quando me vejo vestindo cada uma das palavras aqui escritas.

(acho que vou digerir, mais tarde eu volto).

Marina said...

Hmm. E NY misses you!

Larissa said...

Nossa Ju, nunca tinha pensado nisso tudo. Obrigada pelo "thought-provoking" texto. Adorei. Como sempre. Muitos beijos- e saudades.