18.12.10

Presente de dezembro


, e quanto mais eu eu acho nesse crescer pra dentro, quanto mais presente, mais sinto as ausências? Ou é só o mês de dezembro (todo ano tem esse mês que me entra rasgando, o dezembro)? Ela me disse que é o frio, e eu até acredito. Não se vê mais pele, nem cores. A noite chega de tarde ainda. O quão triste é a escuridão das quatro e meia?

(O mercado do fim do dia, na Union Square, está cheio. As pessoas compram as verduras que faltam para o jantar. Uso o banheiro, tenho várias camadas para despir. O ar está frio, mas cheira a churrasquinho. Carrego uma sacola com minha bota nova, ando com amigos, desvio dos pedestres apressados. Sou uma delas. Nova Iorque é suja e linda - agora brilhante com luzes de natal. Em Manhattan são brancas, elegantes e suntuosas; aqui nos projetos habitacionais em frente a casa são coloridas e extravagantes, presas em suas pequenas janelas. Saio de casa e sempre abro um sorriso ao vê-las - que símbolo bonito. Está tudo bem.)

Já me disseram que estar presente dá espaço para sentir as ausências.
Olha que curiosa essa história de limites e definições: passei tanto tempo aprendendo a me definir pelas minhas ausências e descobrir nelas minhas presenças, e agora parece que voltei para o ponto de partida. 
(Um cachorro correndo atrás do próprio rabo)

Do mar vi a ilha, agora da ilha vejo o mar.
(Vontade de terminar aqui com tudo é mar e ilha)

Acho que só sabendo quem se é pra saber o que te falta. Não?
(Repararam nas várias interrogações?)
Então essa dorzinha de ausência é meu troféu de identidade?

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