Ela estava exausta de si mesma. Era esperta, sabia que dessa situação não havia saída fácil - já ouviu tudo antes. Pensava ter esgotado o número de combinações possíveis de palavras para descrever esse velho sentimento, que agora nem novos termos tinha mais. Seu corpo havia cansado também, e andou a deixando na mão uns dias desses aí. Seus ovários julgavam que esse não era um bom momento para soltar um dos seus, nessa terra aí nada vai fecundar, um disse pro outro.
Sentiu tanto nos últimos tempos, e ainda havia tanto para sentir! Era a fonte inesgotável dos sentimentos humanos. Já não se importava mais com a qualidade de seus sentimentos, aprendera a aproveitar a alegria e a tristeza, na mesma intensidade. Além disso, era uma meta-sentimental. Feliz por estar feliz, ficava triste quando estava triste.
A maior angústia desse dia era a angústia por estar angustiada. Como se não bastasse. E tendo seu corpo desistido dela, desistiria dele ela também. A você não irei mais alimentar, disse enfezada. Sabia como essas coisas funcionavam, esperaria passar. Quem sabe a inanição não daria um reset no seu funcionamento?
Mas nesse dia não era ela a dona da poesia. A dona vida olhou pela janela, e deve ter visto aquela menina definhando em desnutrição. Se encarregou de botar na sua frente um jantar, fresco e livre de crueldade, bonito e colorido, feito por outras mãos. As suas estão cansadas? Use as minhas. Aqueles tomates foram capazes de mudar o script escrito por ela, que agora lia palavras de outros. Foi feito com amor, era o que diziam.
Tomaria esse dia como lembrete para os dias nublados. Um sinal de sua santa ignorância, como é bom estar errado quando se está errado.
4 comments:
Nossa Ju, vou até repetir esse trecho "era uma meta-sentimental. Feliz por estar feliz, ficava triste quando estava triste". Essa é a Ju!
Poesia sua!
Adorei, Ju =)
Ju,
Clarice ficaria com inveja do seu texto. Adorei!
=*
fofa, o "meta-sentimental" foi realmente... sem palavras!
sou isso demais da conta! agoniada por estar agoniada. pra quê, né, gente? como se já não bastasse uma agonia, ainda multiplicá-la por 2??
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