17.5.10

2 de Maio, 17 de Maio


Quando eu era criança, duas semanas depois do meu aniversário sempre era aniversário da minha melhor amiga. Eram muitas as coisas que nos uniam, mas essa proximidade dos dias em que comemorávamos a nós mesmas adicionava ainda outro fator à nossa cumplicidade - e ainda nascemos tão perto uma da outra!

Nós fomos companheiras por muitos anos da nossa infância e éramos, juntas, diferentes. Quando hoje alguém me pergunta sobre aquela infância pequena, a escola, se eu era popular ou não, me visitam umas lembranças-sensações, todas ao lado dela. Não, não me lembro de sofrer chacotas. Não era popular. Eu era eu+ela, por muito tempo. E a gente se acompanhava em tudo o que a gente queria fazer. Entre os finais de semana mergulhadas nas papelarias da cidade, e as tardes depois da escola montando as maquetes, era muita brincadeira, muita leveza. Ela foi a primeira a me ensinar a pertencer a algum lugar fora da minha casa, e me oferecer a sua como se fôssemos irmãs. Me ensinou também a aceitar e aproveitar todas as coisinhas e manias que eram minhas, por tantas serem dela também. Então fomos casa uma da outra, para crescer e aprender muito sobre o mundo, sobre brincar e além de tudo pintar flores bem bonitas onde houvesse um espaço em branco.

Muito do que sou hoje, tenho certeza, devo a ela, e a esse apoio inocente que ela me ofereceu.

Mais crescida, ela foi também a primeira a me ensinar que amor não acaba, mesmo com a distância. Foi com ela que senti pela primeira vez a tristeza de estar afastada de alguém tão significativo, e vez ou outra cruzar nossos caminhos, trocar sinceros abraços e sorrisos, e seguir. Mas foi ela também quem me ensinou outro lado, tão bom, de crescer, esse de voltar a dar importância para o importante. E alguns encontros foram suficientes para que aquela irmandade da infância voltasse para acalmar meu coração - eu estou sempre aqui.

(muitos me chamavam de inocente, ou saudosista demais, ao sofrer tanto pela ausência e acreditar que poderia ser diferente. hoje, me orgulho de ter feito com ela e mais tantos o improvável, e provar que dá sim para se manter próximo dos que ama)

Até que um dia ela se foi, e fui tomada por uma tristeza como poucas já sentidas. Ela era parte de mim e de muitos que amo, a nossa querida Emília. Me lembrei da pessoa que fui ao seu lado, com ela, e por causa dela - e que ainda sou. Me lembrei da família, por um momento me senti em casa de novo, e então entendi a grande tristeza que sua ausência traria.





(e nunca me esquecerei do companheirismo entre as irmãs que ficaram. enquanto eu só queria mandar meu coração inteiro para todos os outros amores agora também sem um pedaço, recebi de volta amor suficiente para causar, sim, uma alegria. uma grande alegria. e provamos juntos que somos importantes demais uns para os outros para simplesmente deixar passar. construímos uma família, a família dos que cresceram juntos, tanto se conhecem, e tanto se cuidam).

4 comments:

Marol said...

ohhh, lindinha, a gente leva um tanto dela todos os dias neh? Eu sinto a emi em tudo, em todas as lembranças, no tanto q ela deixou dela em mim... às vezes me dá uma tristeza, uma raiva... mas aí eu penso o tanto q fomos abençoadas de ter ela na nossa vida, neh? Foi tudo sempre tão bom, tão leve, tão feliz! São lembranças q fazem a gente seguir...
Eu acho q nunca te agradeci, mas nem tenho como dizer como vc foi essencial para mim nesses dias sem a emi, quando eu tentava entender e aceitar o q tinha acontecido, suas palavras sempre tão confortantes, tão suaves... vc tem um dom de escrever com tanta sensibilidade, minha querida!
Saudade da emi, saudade de vc, saudade da nossa infância... soft paper, chá gelado, desenhos, indi... tudo muito bom, todas lembranças tão doces, tão fortes!
Te amo muito, juju!

Mônica Padilha said...

Muito lindo texto Ju... Hoje também é um dia que sempre lembro, um mês exato do meu aniversário, eu e Emília sempre tivemos esse mês de diferença...

Para mim, as principais lembranças são daquela infância ainda mais distante, AV Folha, as únicas meninas da turma que sairam da turma B e foram para A... Foi aí que tudo começou...

Muitos beijos apertados!!! Para todas dessa família eterna que essa escola nos propiciou!

marina said...

que lindo, ju. me emocionei.
e tenho certeza de que emília tá lá, de onde ela estiver, sorrindo um sorriso bem taurino pra todo mundo que ficou com saudades dela por aqui. :)

um beijo e um abraço apertado.

Ruth said...

Sensível demais as palavras, tocam lá no fundinho!

=]