1.10.09

Who are the angels?

Alguns dias dessa minha curta vida parecem cenas de filmes. Por vezes essa sensação me vem ao escutar músicas-trilha-sonora enquanto caminho pelas ruas de Nova Iorque num desses dias de outono. Uma Coralie Clément tocando, enquanto folhas secas cruzam meu caminho na saída da terapia, antes da entrevista de emprego (dando som a uma reviravolta no script) - e a sensação que... ahhhhh! Tudo vai mudar, me sinto protagonista.

Certas vezes essa sensação me vem pela vivência de estereótipos somente vistos em filmes norte-americanos da nossa infância - a primeira vez que assisti um jogo de basquete num ginásio de high school. Outras vezes pela inverossimilhança com a vida que a própria vida pode ter. Mais estranho que a ficção.

Ontem foi um pouco de cada. Terminei de empacotar meus volumosos pertences e cruzei uma ponte (literal) rumo a uma nova casa. Eu, dentro de um caminhão, antecipando a tal virada na história. Faltou música no carro, mas na minha cabeça certamente alguma trilha completava o momento. E chegamos de volta ao Brooklyn, o chão tremendo do grave saindo de um carro estacionado à esquina, o espanhol dominando as bocas de todos os vizinhos, crianças saindo da escola batendo uma bola na esquina e falando alto.

Depois foi Os Três Patetas até o fim do dia, entre vazamentos, buracos na parede, carrega tábua dali, carrega tábua de cá, eu grito com os 4, eu com esse, ele com aquele, todos com todos...

Uma caneta e papel na mão tentavam desenhar uma saída para os nossos vários pequenos problemas, mas os berros e os nervos à flor da pele nos impediam de escutar. A campainha toca, entra o carpinteiro às 7 horas da noite para instalar o balcão da cozinha. Ouve 5 minutos de conversa, faz seu trabalho e pede licença para participar. Elijah, um homem de forte presença, negro, maduro. Fala exatamente o que estava sendo dito, mas dessa vez ouvimos. Os nervos acalmaram-se e tive vontade de abraçá-lo. Diz que trabalha para "Ele", e gosta de atender os "chamados" mesmo tarde assim. Depois de sua ida, encontramos o seguinte panfleto:

Who are the Angels?
(vinha uma foto aqui, mas fiquei com preguiça)

Elijah. Deus ou um de seus enviados vem à Terra de homem negro, entra em nossas casas e desata os nós. Acho que já vi esse filme antes.

1 comment:

Mônica Padilha said...

Pior que isso rola mesmo na vida da gente, nesses dias duros...

Santo Elijah!