2.3.09

O primeiro par a gente nunca esquece


Hoje comprei meu primeiro par de galochas.

Eu sempre tive muitas dificuldades em comprar botas. Por anos quis, e procurei, adquirir uma, mas nada me agradava. O último par foi um preto, estilo cowboy, resto de um armário anos 80 da minha irmã. Talvez por ser dela (e como ela era linda!), eu as usava com gosto. Em toda feira agropecuária você podia me ver desfilar com meu lindo par de botas velhas usadas, agora sujas de esterco e dançando ao som de Rio Negro & Solimões.

Eventualmente, um pé desse par cedeu. Bastou um pé.

Foi durante uma feira dessas, eu e minhas 5 melhores amigas acabávamos de chegar na granja do torto, despedimos do pai de uma delas que havia sido um anjo por nos dar carona até aquele inferno na Terra, e a sola do bendito pé direito descolou. Não só descolou, na verdade, como se esfarelava. Anos de serviço bem prestado e bastou. Eu, a segunda dona, fiquei na sarjeta, com o pé embrulhado num saco plástico, até as 5 horas da manhã, como era de praxe nas nossas noitadas adolescentes. Os gatinhos do 1 ano E passando... e eu na sarjeta com meu pé de carrefour.

Acho que não foi raiva da meia enlamaçada, mas nunca mais consegui comprar uma bota. O frio começou a bater em Nova Iorque e os dedos começaram a congelar. Meu all star estava pedindo arrego, e a liberdade deliciosa que essa cidade nos dá me permitiu, finalmente comprar uma bota que não necessariamente satisfazia todos os critérios que eu havia estabelecido ao longo dos anos para uma bota perfeita. Comprei, e virei uma viciada. Hoje eu teria todas.

Menos uma. A tal da galocha. Moda idiota, galocha de zebrinha, chulé. Já tive meu pé congelado por várias nevascas, mas elas eram sempre a exceção, o inverno já está acabando, não vou usar nunca mais.

O segundo inverno chegou, e a nevasca do ano passou por aqui ontem. Hoje de manhã, decidida, fui à loja de sapatos. Cedi. Passei o cartão. Aceitei.

Ainda não sei se gosto ou não da moda, mas estou segura que com tantos centímetros de neve nas calçadas a galocha não é moda, é necessidade. E eu acabei de escrever um texto inteiro sobre botas, parabéns a você que acompanha até aqui. Mas é porque eu queria fazer um final bonitinho, com a lição de moral, cívica, espiritual, e todas as lições que eu adoro dar.

A galocha é necessidade, o frio é constante, o inverno não é exceção. Faz parte da minha vida, e não seria no primeiro inverno que eu aprenderia essa lição. Foram necessários quase dois pra eu comprar um par de galochas e admitir que onde eu moro faz frio e neva. Não estou aqui a passeio. O período de negação começa a terminar, pelos pés. Pelas galochas.



Não perca o próximo capítulo: óculos!

2 comments:

DAUGHTER NATURE said...

´hehehehe

Adorei a lição de moral e cívica.

Hélio Sales Jr. said...

Eu passei por isso, mas em Brasília. Me recusava a arrumar um lugar de verdade pra morar porque na minha cabeça, não ficaria lá mesmo. Uma hora a ficha teve que ser enfiada à marteladas na minha cabeça e acabei me rendendo. Mesmo assim, não sei se foi NY, não me sinto parte de lugar algum no mundo.