Uma Historia de Des(Agonia)

Calma. Eu estou no aeroporto. Esperando meu voo que parte em duas horas. Nao estou la ainda, ainda nao ha nada que eu possa fazer daqui.

Estou aqui.

Nao estou no ano que vem.

Estou aqui, exatamente as 9:58 da manha.

Estou aqui, no aeroporto. Meus pes estao cansados, vou coloca-los em cima da minha bagagem de mao (nova. Ela esta vislumbrando muitas mais viagens pela frente, cheia de energia jovial). Meu laptop ainda tem bateria, acho que vou ouvir musica nele para economizar o meu ipod pro voo, que vai ser longo. Tudo bem, estou com sono mesmo, vou dormindo. Pronto, os pes estao bem melhor. Esta me dando uma fominha... Sera que ja posso comer? Deixa-me ver: a ultima coisa que comi foi bem gordurenta, aquele donut nojento do hotel. Nao, nao posso comer mais nada. Se bem que sai do hotel as 7 da manha e agora ja sao 10. Realmente, tem 3 horas - ja estou certa em sentir um comeco de fome. Acho que vou esperar um pouco mais pra comer bem antes de entrar no voo, aqui eles nao servem nada pra comer. So aqueles pretzelzinhos esquisitos - se eu tivesse que escolher um tira-gosto, um "lanchinho", pra servir nos voos que cruzam todo o pais todos os dias jamais seria aquele pretzelzinho sem graca. Nao entendo esse gosto estranho. O que vou comer daqui a uma hora e meia? Tem um starbucks ali, talvez um latte seja uma boa. Acho que vou me presentar e me deixar comer e beber o que bem entender, eu mereco. Ne? Acho que sim.

To com uma sensacao esquisita. Um medo apavorante de que nao de certo. Nao sei exatamente o que. Talvez o apavoramento todo seja porque temo que esse algo seja a minha vida. Medo da vida inteira nao dar certo - e demais.

Acabei de receber uma mensagem no celular: "Your flight #154 has been rescheduled. It is now leaving at 12:17 pm". Otimo. Mais uma hora de (des)agonia. Vou comer entao minha barra de cereais.

O coracao continua apertado. O coracao continua apertado. Ainda ta apertado. "Juliana, aceita a dor, vive a dor". Essa vozinha nao cala na minha cabeca. "Vive o que surgir no coracao". Mas essa vozinha nao sabe que instala um grande e verdadeiro dilema em mim: sera que eu sou a unica que nao gosta de agonia? Nem de dor? Eu nao gosto, porra. Nao quero mais sentir isso, chega. "Mas voce tem que sentir, viver, e ai passa. Voce ainda nao viveu, nao se permitiu sentir, por isso nao passa nunca". Mas, perai, eu tenho que fazer isso? Contra a minha vontade? Isso nao me parece muito natural, dona Vozinha.

Ta, vamos tentar. Bem, estou sendo generosa nesse "vamos", porque estou me sentindo bem sozinha nessa empreitada. Acessando sentimentos, acessando sentimentos... "Acessando sentimentos", como se fossem arquivos de computador, que eu abrisse com dois cliques. Fracasso imediato?

Acho que quero ouvir musica apenas, e parar de matutar. Mas sera que e extamente isso mesmo? Minha tia fala: "it's time to do exactly what you want". Mas e quando voce nao sabe exatamente o que quer?

Acho que quero ouvir uma musica, e tentar... Nao, eu quero deitar logo num colo, cair num abraco, mais um abraco daqueles de amor e confianca. Infelizmente, muito maiores dos que eu sinto em mim agora. Se minha amiga me permite, vou roubar um pouco dela. Espero que me satisfaca antes de enfraquece-la.

Eu quero amor e confianca.
E to vendo um biscuit ali que parece bem gostoso.