16.12.07

A confusão toda

A confusão toda é que sinto aqui dentro, a cada minuto, um tanto de coisas. Todas tão diferentes das do minuto passado. Inorganizáveis - é a única palavra que penso agora pra isso tudo. Absolutamente inorganizável.

E como uma control freak vive inorganizavelmente?

Eu acordo apesar da vontade louca de não sair nunca da cama quente, apesar dos sonhos conturbados que me mantém esmagada, pesada, nessa cama. Levanto porque é isso que se faz quando uma hora chega. Levanto, e vou. Muitas vezes mal agasalhada, e o que sinto antes de mais nada é frio.

Pego o B e, 1 hora e meia depois, chego lá, algumas páginas do livro e algumas cochiladas depois. Entre adolescentes saídos do high school e velhas senhoras nova-iorquinas, chego lá. Lá onde encontro meu eterno caso de amor e ódio, o doce-amargo Mattia, que me ama-odeia, como eu amo-odeio ele. Mas aí o dia chega ao fim e ele me diz que irá "miss me" e eu recebo vários dólares, e fico feliz (e sinto uma saudadinha inegável dele, da lembrança de como a vida para alguns está só começando, entre birras, cartoons, homeworks e playdates).

Aí entro na geladeira que vivo, andando entre os blocos de gelo que insistem em deixar tudo muito próximo do inóspito - não próximo o suficiente para ser efetivamente inóspito, mas o suficiente para sair da minha zona de conforto (posso repetir? "hunger hurts, but starving works"). E passo pela Jennifer, pelo Carl, Dexter, e Brian. Brian esse que insiste em pagar minha próxima cerveja, uma escolha da carta das 24 oferecidas pelo singelo bar. Uma das minhas várias, acompanhadas de uma gentileza de um taxi para casa.

Longe, casa longe. Na qual chego sozinha, com frio, entediada, mas "entertida" no meu mundo musical, que pode me cansar muitas vezes, mas não me abandona nunca. Sozinha e segura, olha só que coisa!

Chego a uma garrafa de 2 litros de rum, como não?, e umas cartas malucas de baralho que se misturam a confissões pessoais e suas pessoas por trás. A muitas pessoas imensas, gigantes, bonitas. Aqui dentro, longe, na casa longe, pessoas grandes, do tamanho do mundo.

O mundo é aqui, é isso tudo. Essa negritude toda desse inverno que me reveste dos pés à cabeça, e, mesmo que seja pelo buraquinho do nariz, uma corzinha escapa, e encontra outras.

Outras pessoas, outras histórias, da Bolívia à Itália, e de volta ao Japão. Tudo do tamanho do mundo, que é desse tamanho mesmo.

Do tamanho do Natal e suas luzes e canções. Do coração que não cansa de existir e bater, apesar da capa negra, e deixar escapar, dessa vez pelo buraquinho do olho, uma sensação, que aparentemente nunca vai passar. Uma emoção eterna mostrada à toda Nova Iorque, que absorve minhas lágrimas quase que diariamente em seus trens e calçadas, quando choro de tamanho buraco no peito e ao mesmo tempo enchimento, preenchimento, coisas bonitas e gostosas, mojitos e karaokês. Essa cidade me absorve e eu então faço parte desse mundo, desse mundo que se chama vida.

A vida são mojitos e karaokês.

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E, enquanto isso, do céu cai água congelada, frozen. Fazendo barulhinho de "tic, tic, tic" na minha janela.

4 comments:

Unknown said...

Sendo mojitos e karaokes, você ainda queria que fosse organizavel?

Me parece tão mais gostosa essa inorganizavel vida. Bagunça mistura salada de buzzed e rock´n´roll. Sem pressa, linda. Devagar é melhor que rápido, lembra? E logo mais as coisas fazem mais sentido, parecem mais cozy, menos frias, o mattia mais sweet e se levantar não vai mais ser obrigação, mas prazer.

A primavera tá logo ali. ;)

Saudadesteamo.

=*

Cacá said...

Linda!!! Como é bom fazer parte de muitos desses momentos.

E por fim, mais uma de nossas conclusões - já batidas - (mas que retornam depois de uma longuíssima conversa que achamos que chegaríamos a diferentes conclusões): Para ecrever-desenhar-cantar-sei-lá-o-que bem, é só fazendo.

E cada dia eu te leio aqui eu só consigo ver o quanto você tá se aperfeiçoando, eu não consigo (ainda) colocar em palavras o que sinto, e vejo que você tá fazendo isso maravilhosamente bem.

Sobre o conteúdo do texto, simplesmente sensacional!! Um retrato do que está sendo você aqui, te endendi melhor, te vi, te vejo, e fico muito estasiada (será que era essa palavra que queria dizer?) com o que marcou, ficou, desses poucos dias aqui para você.

Anita said...

A Daya está muito certa no que disse, e eu assino embaixo.
A vida vai ser o que quiser que seja, mas a coisas têm seu tempo.
E assim como é melhor ler os textos na hora que dá vontade, é bom esperar um poquinho sim pra vida se ajeitar, pro karaoke virar um homem lindo e o mojito virar o emprego dos sonhos! :o)

Cante e se embriague, de poesia, mojitos, amor.

Se ajudar:
Te amo do tamanho do mundo, que é do tamanho da vida. Sempre.

Hélio Sales Jr. said...

Bagunça? Pra mim é a única coisa que existe. A ordem é uma utopia de ficção científica. Juro que já tentei, mas nada se organiza como eu queria, NADA! Por isso eu relaxo... quando consigo parar de pensar numa maneira original e espetacular de organizar a vida. Talvez por isso eu seja insone.
Inverno? Que nada... essa quarta e quinta você vai ter o gostinho de um dia onde a temperatura mais quente terá um tracinho de negativo na frente... ai, dá vontade de usar drogas pra não sentir nada!!!